Faz hoje dois anos. Uma luz apagou-se aqui na terra e acendeu-se mais uma estrela no firmamento. Disse adeus em paz, mas ficou muita coisa para dizer... Fica sempre.
Deixou-me tanta coisa, que só com a distância que o tempo vai permitindo é que me apercebo do quão grande foi esta herança. E estou-lhe muito grata por isso.
Dessa noite recordo o medo de não saber viver sem ela e a urgência de não me deixar abater. Mantive-me tão firme que até o médico do INEM estranhou a minha calma, e ali estava eu com o saco do soro na mão enquanto a equipa médica tentava à força trazer de volta à vida aquele coração velhinho e cansado de tanto bater. Mas o importante era estar ali com ela, porque era assim que ela queria, em casa e nunca sozinha. E também foi assim que eu quis, em casa e sempre ao lado dela. Porque quando for a minha vez também quero comigo alguém que me ame e que saiba o quão importante é não partirmos sozinhos, alguém que me dê um beijo e me diga que posso partir, que não faz mal descansar agora e que vai ficar tudo bem, embora as saudades sejam muitas.
Depois fiquei sozinha em casa, a Mafalda a dormir no berço, a noite que parecia não ter fim e eu sem ninguém com quem falar... Arrumar os restos da confusão para que a minha mãe não tivesse de lidar com isso... E o silêncio a elouquecer-me... Não sei quanto tempo durou, apenas guardo a sensação do silêncio na minha cabeça, como se tudo tivesse ficado suspenso naquele momento.
Aos poucos vamo-nos habituando a viver sem esta luz que sempre esteve connosco e quanto mais tempo passa mais saudades tenho deste alguém que me deu tanto, mas tanto do que sou, e que é e será sempre um exemplo de força e coragem para viver e enfrentar as dificuldades da vida com a cabeça erguida e muita fé num amanhã melhor.
Um grande beijo e até sempre avó.
Two years ago a light went off here on earth and lit up another star in the firmament. She said goodbye in peace, but many words were left unsaid. Always are.
She left me so much, that only the distance that time allows makes me understand the enormity of this heritage. And I'm very grateful for that.
That night I remember the fear of not knowing how to live without her and the urgency of not letting me go down. I stayed so strong that even the doctor surprised my calm, and there I was with the saline bag in my hands while the medical team tried to forcibly bring back to life her old heart. But the important thing was to be there with her, because thats what she wanted, at home and never alone. And thats what I wanted, at home and always by her side. Because when it's my turn I also want someone who loves me by my side, someone who knows how important it is not to leave alone, someone giving me a kiss and telling me that it is okay to rest now and we'll be alright, although i'll be missed.
Then I was alone at home, Mafalda was sleeping in the cradle, the night seemed endless and I had no one to talk ... Arrange the remains of the confusion so that my mother did not have to deal with it ... And the maddening silence... Do not know for how long, i just kept the feeling of silence in my head, as if everything had been suspended at that time.
Slowly we start to get used to living without the light that has always been with us and the more time goes by more I miss her, who gave me so much, but so much of what I am, and it is and will always be an example of strength and courage to live and face the difficulties of life with your head up and a lot of faith in a better tomorrow.
A big kiss for you grandmother, wherever you are...