Faz hoje um ano... Deus fechou a porta e na escuridão eu não vi que Ele abria as janelas, por isso fiquei na escuridão, só eu comigo mesma e os monstros em mim. Eu e Eu finalmente frente a frente num confronto à muito adiado.
Eu e Eu num deserto sem fim, numa luta desigual sem vencedor nem vencido, apenas eu...
E depois uma janela que se abriu e uma miragem de oásis e uma mão amiga que me levou até à àgua e me obrigou a ver o meu reflexo. Na àgua uma imagem de mim que eu não conhecia e um turbilhão de sentimentos agitavam as águas onde antes a imagem era nítida e transparente. E com a àgua olhei para além de mim e finalmente entendi que a mágoa, a zanga, a dor e a revolta não eram senão para comigo... Por ter acreditado, por ter deixado, por ter lutado, por ter dito, por ter feito, por ter escolhido, por ter amado... O deserto à minha frente e a única maneira de saír dele era encontrar o caminho do perdão. Mas é tão fácil perdoar os outros e tão dificil perdoar-me a mim, porque eu devia ter visto o que os meus olhos se recusaram a ver e ouvido o que os meus ouvidos se recusaram a ouvir, devia ter lido nas linhas e nas entrelinhas e em todos os outros lugares onde o vi escrito.
Atravessei o deserto num caminho que sabia ser só meu e lentamente, muito lentamente comecei por aceitar, depois por interiorizar e aos poucos fui remoendo tudo, tudo, mesmo tudo até ficar em paz com todas as palavras ditas, com todos os minutos de todas as horas e de todos os dias. E reaprendi-me numa nova forma de mim já sem rancor nem raiva nem dor. Ao atravessar o deserto fui, como uma cobra, largando a pele e só ao sair dele reparei o tanto de mim que tinha ficado para trás e o tanto que em mim tinha mudado.
Não foi hoje, nem ontem que saí do deserto. Nem sei bem ao certo quando foi ou como foi, simplesmente fui andando até chegar aqui. E daqui, um ano depois, já não vejo o que ficou para trás, não sei ao certo de onde vim mas sei bem para onde vou. E daqui, um ano depois paro para pensar e reflectir e faço este requiem... Não querendo esquecer não quero voltar a lembrar...
One year ago... God closed a door and in the darkness i couldn't see Him openning the windows. I sat there, just me and myself and all this monsters in me. Finally facing myself... Me and myself in this huge desert fighting a war without a winner... Just me...
Then i saw a open window and an oasis in my desert and a friendly hand who took me by the water and made me see my reflex in it. I couldn't recognize the image on the watter surface but my feelings to it were very familiar. By the water i saw through me and finally understood that all the rage, the anger and the pain i was feeling were because i couldn't forgive myself... For believing, for trying, for fighting, for letting it happen, for all the things i said and done, for the choices i made, for the love i gave... And the only way out of the desert was finding the path of forgiveness... But is so easy to forgive the others and so dificult to forgive myself because i should have seen what my eyes refused to see, i should have listened what my ears refused to ear, i should have read all the lines and the middle words in them and all the words written elsewhere. I should have known better...
I crossed the desert by my feet, slowly, very slowly and i began accepting, then i interiorized and i began to process it all until i was in peace with all the spoken words, with every single minute of every single hour of every single day. I re-learned myself without anger or pain. As i was crossing the desert, like a snake i slowly changed my skin, and i was walking out of it i saw how muvh i left behind and how much i had changed and grown.
I didn't left the desert today, not even eyesterday. I don't know for sure when or how, i kept walking until i get this place. And from this place, a year after, i can not see what's in by back, and i am not sure where did i came from but i sure know where i'm going. And from this place, a year after a take a deep breath and think about all this and i write this requiem... I don't want to forget but i shall not remember anymore...