Há dias assim... Cheios de pequenas coisas que me fazem sorrir sem razão aparente, cheios de pequenas coisas que me levam de volta a lugares onde já estive ou me levam a lugares onde sempre quis ir, tudo sem nunca deixar de estar aqui. E estas pequenas coisas, aparentemente tão insignificantes, são tão poderosas que conseguem fazer parar a corrente, conseguem interromper a rotina agitada e trazem consigo uma distração momentânea, que por alguma razão que eu não entendo, me fazem sentir bem e parecem trazer também algum sentido a este corre corre do dia a dia.
Cansada deste inverno, dos dias cinzentos, do muito frio e da muita chuva, consigo sorrir quando vejo um corvo marinho a voar sobre as águas do Tejo. Não é um, são dois. Não sei se são sempre mesmos dois, mas sei que garantidamente existem dois. E este corvo marinho, que muitas das vezes só vejo um, é quase uma figura mitológica para mim, é algo de raro e inesperado, algo com muito sentido e que me deixa feliz só porque sim. E porque em dias que parecem já ser de outra vida, eu fui daqui para as Berlengas, numa aventura a dois, para estudar uma suposta comunidade de corvos que, também supostamente, deveria lá existir. E foi um bom fim de semana, com sabor a frango assado e a batatas fritas e nunca nenhum frango assado me soube tão bem como aquele, comido com as mãos porque não havia talheres nem dinheiro para ir a um restaurante, que estudante é sempre estudante! E claro, do belo patinho, nada! Só vi um, assim que cheguei, direitinho numa rocha como o da foto (que não é minha), e depois o mesmo (?) quando apanhei o barco de regresso. Do belo corvo nem mais nada. Anos e anos sem ver corvos marinhos, e eu a achar que ver um corvo marinho era tão dificil como ver um qualquer unicórnio ou uma fénix renascida ou por renascer. Até ter vindo parar aqui. Notem que este aqui, só por si faz também parte desse outro tempo de estudante em que por aqui andava. Agora de outro ponto de vista, quando daqui saío para o terraço sorrio quendo vejo o corvo a passar, e chego a ir de propósito ao terraço ver se o vejo, quando o trabalho obriga a uma pausa para descanso mental ou para reorganizar ideias. Não sei explicar... Há estas pequenas coisas...
E depois há outros dias confusos e caóticos em que o próprio mundo parece estar virado às avessas, e tudo parece estar fora do lugar, e em que nos sentimos tão únicos por nos sentirmos tão sós na forma como somos e pensamos e agimos. Nesses dias em que as noticias são só actos de malvadez e que somos obrigados a reconhecer que não há nada, (eu quero muito acreditar num quase nada) que não tenha sido já comido por esse cancro da corrupção.
E assim estava eu ontem, a digerir a evidencia do "alegado" envolvimento desta e de outras empresas nesse tão próspero negócio das sucatas milagrosas, a saber que "alegadamente" este conselho de administração terminará funções antes do previsto, e eu com tanta, mas tanta coisa a precisar de aprovação, para o meu trabalho andar.... E não é que ao ir ao terraço, a ver um Tejo sempre deslumbrante, vejo passar o belo corvo, e em conversa com um colega, daqueles que de tanto viver tem tanto para contar, fico a saber que o senhor em causa trabalhou a bordo do Barco do Amor! Esse sim, o da série da televisão. Mais, não só trabalhou neste navio como esteve no Alasca! Esse mesmo Alasca que eu quero tanto, mas tanto conhecer! E de regresso ao escritório deparo-me não com um, mas com dois arco iris, lindos, mais lindos ainda do que os da foto (que também não é minha), a cruzarem o céu desta Lisboa! Dois arco iris do restelo ao Bairro Alto, mesmo com a Basilica da Estrela sob o arco! Lindo, mas lindo... e eu, claro a sorrir e a pensar nestas pequenas coisas, tão pequeninas mas que fazem o tempo abrandar, e só por um bocadinho sou só eu a sorrir sem conseguir explicar! Há dias assim...
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