Por rotina
este é um dos blogs que leio regularmente. Geralmente serve-me de inspiração e faz-me sonhar com uma vida que dificilmente será a minha. Hoje fez-me pensar em algo que me acompanha aqui dentro há já algum tempo. Por isso, vão ter de me desculpar a introspecção mas hoje vai ter mesmo de ser. Se aqui escrevesse Pedro Paixão intitulava este post como "palavras de mim para mim passando inutilmente por ti". Estou certa de que o faria.
Desde que iniciei este blog que me surpreendo com o número cada vez crescente de visitas que vou tendo. E precebo o mecanismo porque me aconteceu o mesmo com outros blogs. Primeiro vamos ver ideias de coisas que queremos fazer, outros trabalhos e técnicas de outras pessoas. Depois dos trabalhos acabamos por criar empatia com essas pessoas, com a vida delas, com os pormenores, com o pouco que conhecemos delas mas com o qual nos conseguimos identificar bastante. E acabamos por ler os blogs com regularidade, quase como se estivessemos a ler o diário de alguém.
Mas a vida não é só Quilts, panos, agulhas e linhas, tintas, pincéis, madeiras e bordados. Por detrás de cada uma de nós existe uma pessoa real. Não vou generalizar. Por detrás de tudo o que aqui escrevo existe uma pessoa real, com uma vida real, feita de momentos bons e momentos maus, com dificuldades que precisam de ser vencidas e obstáculos que precisam de ser transpostos, e muitas vezes parece que a força foge. Existe uma rotina que limita tudo, que obriga ao cumprimento de horários e metas e que deixa pouco espaço para o que é bom de viver. E nem sempre as coisas correm como eu quero ou como eu idealizo. Por vezes saio exausta do trabalho e vou a caminho da escola da Mafalda e só penso em chegar a casa e brincar com ela para descomprimir do dia, mas ela nem sempre vem bem disposta, e aturar uma criança de 20 meses em birra permenete durante 3 horas, depois de um dia de trabalho não é fácil.
Ás vezes apetece-me fugir, fechar a porta atrás de mim, 10 minutos só. O silencio ainda que por momentos... Apetece-me poder ser só eu, como nunca fui, porque não sou uma ilha e nunca conheci ninguém que o fosse. Apetece-me mudar tudo. Construir a minha vida do inicio, difrerente.. E se.... eu tivesse mais dinheiro e trabalhasse menos e dormisse mais e podesse viajar e mostar o mundo sem limitações à minha filha (e a mim!), se podesse brincar horas a fio e dormir o equivalente se houvesse tempo para tudo (e não há!) e tudo tivesse uma hora e um lugar... se... se eu podesse esquecer a palavra depressão que tanto esforço faço para não me lembrar.
Depois venho a mim, é inevitável. Não hà ses nem mas. Existe uma vida tal como é. E o meu grande desafio é vivê-la com os recursos (humanos, materiais e temporais) que tenho. E o tempo é o que fazemos dele e a capacidade que temos de gerir as nossas rotinas determina até onde é que criamos espaço para nós.
Gosto de fazer tudo o que faço mas admito que grande parte das vezes o efeito é terapeutico. Porque me leva para longe daqui, porque me obriga a não pensar, ou melhor a pensar noutras coisas, mais coloridas e agradáveis, porque me faz sentir bem comigo mesma ver qualquer coisa terminada, encerrada, sem necessidade de continuidade. Ao contrário de grande parte da minha vida.
E mostro o que de melhor faço e o que de melhor me acontece sem revelar preocupações reais e mundanas. Porquê? Talvez por respeito, por consideração, por achar que todas as existências têm já sombra suficiente, por querer ser um bocadinho de luz, como tantas outras blogueiras são para mim, por me orgulhar das coisas que faço e por as querer partilhar como coisas boas que são, e por saber que sou uma estrela no firmamento, e que como eu há mais por aí, que escrevem pelas mesmas razões, e que precisam de pegar numa agulha, seja ela de coser, de bordar de tricot ou de crochet, para fugir um bocadinho e cultivar por momentos um canteirinho de rosas frescas e perfumadas sob a luz de uma manhã calma e quente.
Por isso fica desde já implicito que por muito bonitas e perfumadas e coloridas que as minhas rosas sejam elas têm e terão sempre espinhos.
Estou certa que as vossas também têm, apesar de todo o seu explendor.